Dunas part. Resp / Volta: raízes antigas

Em Volta, o trio instrumental Dunas nos permite um olhar ao passado. A faixa, criada pela banda em 2014, teve sua existência limitada aos shows desse período, até 2018. Fugindo à regra dos trabalhos sem vocal que o grupo lançou nos últimos seis anos, em Volta o convidado Resp canta sobre a sensação de afastamento das pessoas amadas em geral. O pedido de volta é sobre a sensação de lar e parceria, perdida com a distância (seja ela física ou de outro tipo).

Em suas muitas versões, Volta teve vários significados, e um deles está no clipe. Em lindas imagens do documentário Seven Worlds, One Planet, uma mãe puma tenta alimentar seus filhotes. A letra acompanha sua jornada e hora parece comentar sobre a interdependência dos animais na natureza, sobre a morte, e sobre o estado de não-retorno daquilo que já destruímos do planeta. A bela fotografia contrasta com a violência da vida, que é pra todas as espécies a mesma: um trajeto até o fim.

Seis anos após sua concepção original, a banda bota um ponto final (ou uma vírgula?) na transformação e nos entrega Volta, que agora carrega, com mais força que nunca, sentimentos nostálgicos. A ambiência da faixa, realizada pelas guitarras de Guilherme Nunes, define nostalgia: são nuvens, massas gasosas disformes, impossíveis de capturar com as mãos, como a impossibilidade de voltar ao passado.

Como representado na capa, uma versão sombria e pixelada da capa do livro Gabinete de curiosidades naturais de 1734, Volta nos mostra as raízes antigas da banda, fazendo referência a trabalhos anteriores. Por exemplo, a frase “em algum lugar, eu uso o céu” remete à faixa Em Algum Lugar Dentro do Céu, do álbum Ad Astra, de 2015. Em outro momento, “dou boas-vindas a tudo que…”, resgata Boas-Vindas, do álbum de mesmo título, de 2014. Vela e Solta e Cala Mágoa são também resgatadas, mas são faixas que nunca vieram a público, uma demonstração da profundeza dessas raízes.

Em poucos menos de cinco minutos, a banda passa em recortes por um beat eletrônico calmo, seções distorcidas que pontuam um acorde dissonante, um jazz acelerado, uma abertura espacial que se espalha e, ao fim, uma explosão violenta que pouco avisa sua chegada. É o mais próximo que Dunas já esteve do post-rock mais sombrio e pesado, como de Godspeed You! Black Emperor ou Deafheaven, sem perder as variações dinâmicas que fazem parte da identidade do grupo desde o princípio.

O lançamento deste novo single marca também o relançamento do single anterior, Antecipei, em versão remasterizada nas plataformas de streaming. Leia sobre o trabalho anterior da banda aqui.

Curitiba, 01 de outubro de 2020
Atlas / https://linktr.ee/coletivoatlas

Dunas / https://linktr.ee/dunasdunas
Resp / https://linktr.ee/resp2x

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